Talento e atitude: cantoras que agitam as noites de Palmas contam como é ser mulher na cena musical regional

Mulheres vêm ganhando espaço tocando do pagode ao rock e MPB. O g1 conversou com artistas que começaram a se apresentar em Palmas e traçam trajetórias de superação e sucesso. Misha, Dândara (Tô Pagodeira) e Malusa
Divulgação/Arquivo pessoal
Os barzinhos e casas de shows de Palmas são responsáveis por mostrar ao público talentos da cena musical regional. Dentro desse meio, mulheres inovam e ocupam seus espaços apresentando muito talento e atitude, cada uma a seu modo e com seu encanto.
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Neste Dia Internacional da Mulher, o g1 conversou com diferentes mulheres que se apresentam na capital e em outras cidades do estado para contarem suas histórias e dividirem como é estar nos 'palcos da vida' e conduzindo suas carreiras.
Mulher no pop e rock
Misha tem 27 anos e começou a cantar em bares e festas de Gurupi
Divulgação
Aos 27 anos, a cantora Misha faz diversos shows em Palmas. No seu repertório estão canções de bandas e cantoras do pop e rock e que movimentam os amantes dos estilos. Ela contou que começou a se interessar pela música dentro de casa, com a família, em Gurupi.
"Na minha casa a gente ouvia bastante música, quando eu era criança eu pedia CD de presente de aniversário, DVD, essas coisas. E eu comecei dançando na igreja, e depois, com 11 anos, eu comecei a estudar teoria, comecei a tocar violino. Foi meu primeiro instrumento e aí um pouco mais tarde eu comecei a tocar violão e guitarra", relembrou.
Misha também contou que um tio a ensinou os primeiros acordes do violão, mas o restante ela aprendeu sozinha, demonstrando que levava jeito para se tornar a artista que tocou em barzinhos e formaturas de Gurupi e que trocou a 'Capital da Amizade' por Palmas há quatro anos.
Para começar a tocar na capital ela contou com apoio de algumas pessoas que trabalhavam no meio. Mas segundo ela, a dificuldade estava no predomínio do estilo sertanejo. "Eles me apresentaram a alguns lugares e aí eu fui me inserindo nessa cena. Existe uma certa dificuldade porque aqui a cidade, a região é bem sertaneja, né? Mas tem espaço pra todo mundo, sim, eu acredito", completou.
Como planos futuros, Misha, que trabalha exclusicamente com a música, contou que em breve irá lançar trabalhos autorais.
Sobre ser uma mulher dentro da cena musical regional, ela acredita que as casas recebem bem as mulheres e não deixou de elogiar as colegas que também estão na mesma profissão.
"Nós temos muitas mulheres competentes e muito talentosas aqui. E como eu disse, eu acredito que tem espaço para todo mundo. Com certeza na Semana da Mulher a gente ganha um pouco mais de visibilidade. E eu gostaria que essa visibilidade, perdurasse mais tempo, sabe? Não fosse só nessa semana, só nesse mês. Que a gente tivesse mais voz, assim, mesmo tendo espaço, né? Que a gente fosse mais ouvida, um pouco mais credibilizada como pessoas que estão ali para fazer um trabalho, não somente um rosto, um corpo bonito que está em cima do palco para enfeitar", defendeu a artista.
Neste Dia da Mulher, ela deixa como recado que é preciso colocar amor para seguir na profissão. "E que seja de verdade, sabe? Você tem que amar o que você faz, porque se você não ama o que você faz, todo o resto fica mais difícil. Quando a gente faz do fundo do coração, as coisas se tornam mais verdadeiras, mais simples, mais prazerosas. E as coisas fluem", afirmou.
Mulheres no pagode
Tô Pagodeira durante apresentação
Bruna Camila/Reprodução
O que começou com uma espécie de chamado para que mulheres pagodeiras de Palmas se reunissem nas redes sociais levou seis amigas, que não cantavam profissionalmente, a formarem o 'Tô Pagodeira'. O grupo animou diversas festas de Carnaval, levando alegria e muito pagode por onde passa.
As integrantes são: Dândara e Júlia nos vocais; Jojo na percussão; a Isadora no pandeiro; Lai no violão e Hanna no cavaco. Em agosto de 2023, após se encontrarem para fazer um 'pagode' a primeira vez, perceberam o potencial do grupo. Após ajustarem o papel das integrantes e definirem um repertório, já começaram a se paresentar na capital.
"O pessoal do 'Amo Meu Bloco' ficou sabendo que a gente estava nesse movimento e nos convidou para fazer o esquenta de Carnaval deles de 2023 e para o Carnaval de 2024. E aí, minha filha, não deu mais para parar porque foi assim, avassalador. É muito poderoso para a gente ter esse início com tanto apoio das pessoas", comemorou Dândara, falando sobre o sucesso do grupo.
Com pouco mais de um ano e meio se apresentando, as meninas do grupo percebem certa dificuldade na cena musical para as mulheres. Mas isso em nenhum momento tem atrapalhado o ânimo do Tô Pagodeira, e segundo Dândara, elas estão ocupando o espaço delas nesse estilo.
"A gente fala muito quanto é complicado, de fato, pra mulher na cena palmense de pagode. E tocantinense, né? Nós somos a primeira banda de pagode feminino do Tocantins, porque não tem outra, não conhecemos outras. Tem muitas mulheres na cena, outras mulheres na cena cultural, mas no pagode nós somos as primeiras. E o quanto é meio que uma coisa distante. A gente meio que observava e pensava que nunca iria acontecer. Eu já fui muitas rodas de samba em Brasília, de mulheres, Rio de Janeiro, São Paulo, e todo mundo fala que tudo é muito recente, as mulheres ocupando esse espaço", explicou a cantora.
O 'feed back' do público também é essencial para manter a empolgação das meninas, pois esse ritmo tocado por mulheres ainda é novidade.
"Eu acho muito bacana, nós temos muitas pessoas no nosso Instagram que falam: eu vim por vocês, eu vou por vocês e tal. Muitas mulheres também chegam na gente e falam: nossa, vocês estão realizando o meu sonho. Vocês estão fazendo uma coisa que eu desejei muito. Ou então: vocês estão fazendo algo que eu sonhei muito em ver acontecer em Palmas. Então isso, pra gente, nos dá muito entusiasmo de seguir nesse projeto e de ser cada vez melhor, de entregar cada vez mais coisas", comemorou a artista.
Desde que começaram a tocar nos bares de Palmas, elas conseguiram fazer a abertura de artistas de renome nacional: "Fizemos a abertura do show do Dilsinho no Festival Gastronômico de Taquaruçu, que foi, assim, uma surpresa. E um presente inimaginável, impensável, a gente nunca pensou que estaria fazendo algo dessa forma com menos de um ano de banda formada", explicou Dândara.
No Carnaval deste ano, além de Palmas, as 'pagodeiras' tocaram na festa de Conceição do Araguaia, o que para elas teve um significado especial. "A prefeita de Conceição do Araguaia nos convidou justamente por essa representatividade, que é algo de fato importante. E a gente fala muito, a gente vê muitos festivais se fazem, divulgam artistas e você não vê muitas mulheres nesses 'line ups'. Então é muito importante pra gente quando esses gestores, os grandes empresários, influenciadores estão de olho e convidam mulheres, mesmo que não seja a gente", disse.
Sobre a cena musical palmense e tocantinense para mulheres, Dândara afirma que ainda é um pouco fechada e que em algumas programações de grandes eventos só estão presentes artistas masculinos.
"Eu conheço diversas mulheres que têm um potencial gigantesco e são muito boas aqui, mas não foram convidadas para estarem presentes nesses espaços. O quanto que isso é triste porque você perde em qualidade, você perde em diversidade. Então é um terreno ainda de conquista. A gente ainda precisa conquistar esse espaço, a gente precisa chegar em muitos pontos", lamentou.
Os planos futuros do grupo musical incluem a gravação de um DVD e a realização de um festival só voltado à apresentação de mulheres que cantam e tocam em diferentes estilos musicais.
"Esses são dois pontos que a gente pensa bastante, fala bastante e que a gente quer de fato pensar para desenvolver de 2025 para 2026", completou a cantora.
Mulher preta e seu violão
Malusa começou a tocar e cantar aos 18 anos
Divulgação
Quem gosta da noite palmense com certeza já ouviu a voz marcante da cantora Malusa embalando festas em casas de shows e barzinhos. Natural de Porto Velho (RO), aos 37 anos a cantora tem uma trajetória de potência no Tocantins, onde mora desde os 10 anos.
A música entrou em sua vida quando ela tinha 18 anos e começou a aprender a tocar instrumentos, principalmente o violão, instrumento que ela pegou os primeiros acordes sozinha.
Malusa conta que começou a fazer amizades com pessoas que faziam parte da cena musical regional e quando percebeu, estava se apresentando na cidade.
"Comecei a tocar em barzinho, fazendo uma participação aqui e ali e depois fui conhecendo as pessoas, os músicos, os cantores e logo estava rodando em Palmas cantando em vários lugares", relembrou.
Além dos barzinhos, com os anos de experiência tocando na noite palmense, a cantora também tocou em festas particulares, banda de baile e fez parte de projetos musicais com outros artistas regionais.
"O Cerrado Novo foi o primeiro projeto que eu participei com sete cantores, em que só eram shows de músicas autorais. A gente se chamava de 'as sete cabeças pensantes', com músicos que cantavam e músicos que tocavam. Era um show incrível", contou. O projeto foi selecionado em 2019 para rodar dez estados, onde puderam se apresentar e conhecer diversos artistas.
Desde então a cantora não parou e por meio de editais de recursos federais de incentivo a artistas, conseguiu gravar três clipes musicais do projeto Melanina. A ideia foi mostrar a vida de uma mulher negra que dentro da sociedade tinha o direito de ter o que queria, seja no canto, na vida pessoal e na aparência, merecendo o respeito como qualquer pessoa.
A ancestralidade da cantora e episódios de preconceito que sofreu também foram pauta para o projeto musical.
"Uma mulher que já sofreu muito preconceito na vida e que às vezes não percebia que era preconceito e hoje, depois de um tempo, fui percebendo que sempre sofri preconceito. Mas depois que eu percebi que poderia me defender cantando, me defender somente com palavras sem precisar bater ou xingar ninguém, decidi levar o meu modo de cantar, o meu modo de tocar meu violão em me defender", afirmou.
Malusa ressaltou que o preconceito sofrido por mulheres ainda está presente na sociedade, sobretudo contra mulheres negras. Mas ela é categórica ao enfatizar a paixão que tem pela sua cor, pelo seu cabelo e por usar sua arte contra qualquer tipo de racismo e homofobia.
"É muita coisa para se defender, muita coisa para se colocar para fora. Mas não precisa botar tudo isso para fora com grosseria. Então eu boto para fora com a minha personalidade no palco, de uma mulher negra, do cabelo lindo e maravilhoso que eu tenho, e a minha pele, que é maravilhosa", destacou.
Sobre os projetos musicais, Malusa atualmente faz parte do 'Vozes de Ébano", que junto com Cinthia Abreu e Fran Santos. Elas apresentam canções, poesias teatro e dança, em homenagem aos artistas negros da sociedade.
Dentro da atuação como cantora, ela diz que existe certo desrespeito dos homens. Mas hoje consegue escapar desse tipo de situação com educação.
Como uma das representantes da cena musical de Palmas, neste Dia das Mulheres Malusa deixa um recado para todas:
"O que eu falo para as mulheres é que não desistam de viver a vida que vocês querem viver. Não deixem ninguém abafar o brilho que vocês têm. Nós mulheres temos o nosso próprio brilho, nós conseguimos carregar, gerar uma pessoa por nove meses. E isso, além de nós, ninguém pode fazer. Do nosso modo carinhoso, gentil, e que luta pelos seus direitos. Feliz Dia das Mulheres para nós", finalizou.
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