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Palmas,26/02/2025

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Ritalina x Rita Lee: viral engana ao ligar remédio à cantora; conheça os riscos e qual é o uso (correto) do metilfenidato

Fonte: g1.globo.com
Ritalina x Rita Lee: viral engana ao ligar remédio à cantora; conheça os riscos e qual é o uso (correto) do metilfenidato


Nas redes sociais, vídeo viral engana ao afirmar que o remédio homenageia a cantora Rita Lee. Entenda a verdadeira origem do nome do metilfenidato, que ganhou fama de ‘fórmula mágica’ da cognição, principalmente por universitários e concurseiros. Ritalina, medicamento para TDAH
Reprodução
Nas redes sociais, um vídeo atribui o nome do medicamento Ritalina a uma homenagem à cantora Rita Lee. No conteúdo, a artista aparentemente afirma que o nome do remédio foi escolhido em sua honra. No entanto, a publicação não passa de um deep fake – um vídeo manipulado digitalmente para criar essa falsa impressão.
A alegação, desmentida pela própria assessoria da cantora e da farmacêutica responsável pelo medicamento, não tem base alguma e vai contra a história real e documentada sobre o nome do remédio (entenda mais abaixo).
Mas o fato é que a Ritalina, um psicoestimulante tarja preta indicado para tratar transtornos psicológicos, tem sido usada, de forma indiscriminada, por muitos jovens, principalmente universitários e concurseiros, que acreditam que ela pode turbinar a inteligência e melhorar a concentração.
⬜⬛⬜ 'TARJA PRETA': É um medicamento de controle especial, com alto potencial de dependência, e só pode ser vendido com receita médica retida.
No entanto, especialistas ouvidos pelo g1 alertam que ese uso do metilfenidato traz riscos à saúde e não há comprovação científica de que ele realmente "aumente a inteligência".
Abaixo, entenda os motivos.
Ritalina x Rita Lee
A verdadeira história por trás do nome Ritalina é bem diferente do que sugere o vídeo viral. O medicamento, cujo princípio ativo é o metilfenidato, tem suas origens na década de 1940, muito antes de Rita Lee se tornar uma figura pública.
A história toda começa em 1944, quando o químico Leandro Panizzon, então funcionário da empresa farmacêutica suíça Ciba (hoje conhecida como Novartis), sintetizou pela primeira vez o metilfenidato.
Como era comum na época, Panizzon testou a nova substância em si mesmo, mas não notou efeitos significativos.
Leandro Panizzon ao lado de sua esposa, Marguerite “Rita” Panizzon.
Reprodução
Intrigado, o cientista decidiu oferecer o composto à sua esposa, Marguerite Panizzon, que sofria de pressão baixa.
Surpreendentemente, após uma partida de tênis, Marguerite relatou uma melhora notável em seu desempenho, aparentemente relacionada à ingestão do metilfenidato.
Foi aí então que o químico teve a ideia de batizar o novo medicamento. Inspirado pelo apelido carinhoso de sua esposa, "Rita", ele criou o nome "Ritalina".
Assim, o medicamento que viria a se tornar mundialmente conhecido recebeu seu nome em homenagem à Marguerite Panizzon, a verdadeira "Rita" por trás da Ritalina.
Leandro Panizzon em 1937, quando era pesquisador na Ciba. Anos depois, após descobrir o metilfenidato em 1944, tornou-se vice-diretor da empresa.
Ciba
A Ritalina foi então patenteada em 1954 e introduzida no mercado em 1955 para tratar diversas condições, incluindo depressão, fadiga e narcolepsia. Nos anos seguintes, estudos demonstraram seus efeitos positivos em sintomas de impulsividade, hiperatividade e transtornos de atenção.
Desatenção, hiperatividade e impulsividade: entenda por que o TDAH vai além dos grandes sintomas e é desafio para médicos e pacientes
Por isso, um fato curioso nessa história é que, quando a Ritalina foi lançada, Rita Lee tinha apenas 8 anos de idade.
Ao g1, a assessoria da cantora também negou qualquer relação com a origem do nome do medicamento.
Já a Novartis, atual fabricante da Ritalina, esclareceu que o nome do produto tem como precursor o ácido ritalínico, descartando também qualquer conexão com a artista brasileira.
Considerando que Rita Lee nasceu em 1947, e a marca foi depositada em 1956, quando a cantora e compositora tinha apenas 9 anos de idade, não há fundamento na afirmação de que o medicamento teria sido batizado em homenagem à artista.
Rita Lee em imagem de novembro de 2004, em São Paulo
José Patrício/Estadão Conteúdo/Arquivo
Mas o que é o metilfenidato?
O cloreto de metilfenidato faz parte de uma classe de medicamento chamada de psicoestimulantes, drogas que excitam o nosso sistema nervoso central.
Isso quer dizer que, assim como a cafeína, nicotina, cocaína e até mesmo as anfetaminas, ele causa uma variação no nosso estado de humor, aumentando o estado de alerta e excitação do corpo. Entretanto, vale o alerta de que o metilfenidato tem um perfil de segurança diferente quando usado corretamente e sob supervisão médica.
Como os nossos neurônios se comunicam uns com os outros, esses medicamentos atuam justamente na parte do nosso cérebro que é o local de contato entre as células nervosas, as sinapses. São nessas regiões que as informações necessárias para o funcionamento do nosso organismo são transmitidas.
Esse processo todo de troca de informações acontece por meio dos chamados neurotransmissores, moléculas mensageiras que são liberadas de um neurônio para outro.
Depois que os neurotransmissores passam seu recado, eles são então degradados ou voltam para a célula nervosa.
Mas diferente de outros medicamentos que aumentam o estoque dessas substâncias, como a adrenalina, o metilfenidato atua inibindo a recaptação dessas moléculas, estimulando cada vez mais os neurônios e, assim, os processos de concentração.
Antiga propaganda da Ritalina (metilfenidato) destaca seus supostos efeitos energizantes e antidepressivos.
Ciba
Qual a indicação do medicamento?
O metilfenidato é indicado para o tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) em crianças e adultos e também para o tratamento de narcolepsia.
O médico psiquiatria e professor do departamento de psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Amilton Santos Jr., explica que o precursor da droga começou a ser estudado nos anos 50, inicialmente como um remédio para enxaqueca, mas logo essa sua utilidade foi descartada porque os cientistas perceberam que ele piorava esses quadros.
Por outro lado, com o uso da medicação, algumas crianças que eram mais distraídas e agitadas ficavam um pouco mais concentradas e focadas. Por isso, o medicamento, que teve sua formulação aprimorada ao longo dos anos, hoje ele auxilia o tratamento do TDAH, mas não são todos os casos que precisam do uso do fármaco.
“Ele não é cura. Não é o único tratamento que existe. A gente sempre fala: em saúde mental nada prescinde de abordagens não farmacológicas”, ressalta o médico.
Publicidade médica da época minimizava efeitos colaterais e promovia uso amplo de estimulantes.
Ciba
Impacto discutível no desempenho acadêmico
O cloridrato de metilfenidato é um medicamento que deve ser administrado conforme as necessidades de adaptação de cada paciente. Ou seja, é preciso uma avaliação caso a caso feita por um especialista sobre a posologia da droga. É ele que irá indicar a dosagem de acordo com períodos de maiores dificuldades escolares ou comportamentais de um paciente com TDAH.
“Os efeitos de melhora cognitiva do metilfenidato são claramente comprovados em pessoas com diagnóstico de TDAH”, diz Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista.
Ele explica que, quando o medicamento é usado em doses terapêuticas e para as indicações adequadas, ele auxilia o tratamento dos sintomas relacionados ao transtorno, como a desatenção, inquietação e impulsividade, mas que em pessoas que não apresentam o problema, a eficácia no desempenho cognitivo é discutível.
Atualmente, faltam evidências de efeitos a longo prazo do metilfenidato no desempenho acadêmico. Bottura ressalta que alguns estudos chegaram até avaliar as implicações do medicamento no desempenho matemático de crianças e adolescentes, mas os resultados dessas pesquisas mostraram números de melhora muito baixos.
“Hoje em dia muitas pessoas utilizam esse medicamento para melhorar a atenção, até porque hoje ela é muito mais desafiada do que anos atrás. No entanto, o benefício [do metilfenidato] para isso não é comprovado”, destaca.
O médico psiquiatria Amilton Santos Jr. acrescenta que o medicamento pode até deixar uma pessoa acordada por mais tempo e, consequentemente, estudando mais. Mas o descanso depois do estudo, pontua, é igualmente importante nesses casos porque é nessas horas que o cérebro irá organizar as sinapses e armazenar toda informação que foi aprendida durante o período que esteve desperto.
O uso indiscriminado do medicamento em doses não controladas pode resultar no aumento da ansiedade, dores de cabeça, perda de apetite e até mesmo, em alguns casos mais raros, alucinações.
Pexels
“Mas [o metilfenidato] não aumenta a inteligência de uma pessoa. O que ele faz é, durante o seu período de atuação no organismo, aumentar a janela atencional, o período pelo qual a pessoa consegue ficar um pouco mais tempo concentrada”, ressalta.
O problema é que, em indivíduos que não têm TDAH e fazem o uso por conta própria, isso pode causar vários problemas, tendo em vista que não há um controle das doses adequadas do medicamento.
“E aí a hora que a pessoa fica sem o remédio, ela fica como se estivesse deprimida mesmo, ela fica para baixo, sem ânimo, sem energia, que é o estado que a gente chama de abstinência”, alerta o médico.
Quais são os principais efeitos colaterais após o uso sem prescrição médica?
A automedicação com o metilfenidato pode acabar não ajudando o desempenho acadêmico daqueles que buscam um ‘up’ nos estudos e, em alguns casos, até mesmo resultando em sérios problemas de saúde.
O pesquisador Fernando Freitas, do Laboratório de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) aponta que, como esses medicamentos alteram a química do cérebro e provocam um efeito calmante, eles vão criando uma dependência psicológica que estimula a necessidade de aumento da dose.
“Ele ajuda você a concentrar. Você consegue ter mais foco naquilo, fica com mais atenção, mas isso é algo passageiro”, lembra.
O problema é que, se uma pessoa tinha níveis de atenção normais, é como se ela tomasse uma “overdose de cafeína”, explica Santos Jr.
Por isso, o uso indiscriminado do medicamento em doses não controladas pode resultar no aumento da ansiedade, dores de cabeça, perda de apetite e até mesmo, em alguns casos mais raros, alucinações (em casos de superdosagem ou uso crônico em doses elevadas) e na piora de quadros de esquizofrenia ou transtorno bipolar (ele é contraindicado nesses casos devido ao risco de exacerbar sintomas psicóticos ou maníacos).
A questão, defende o médico, é que os pacientes muitas vezes não sabem se têm predisposição a esses problemas até a ocorrência do primeiro episódio. Assim, ele acredita que a questão-chave tem a ver com o controle de acesso a esse medicamento e a necessidade do acompanhante médico.
"Todos os remédios têm indicações e contraindicações. Pessoas são mais sensíveis e menos sensíveis. Então o mais importante é não fazer o uso de forma aleatória e sem a supervisão de um médico especialista na área".
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